Roma - Uma comissão parlamentar italiana concluiu “para além de qualquer dúvida razoável” que o presidente Leonid Brejnev da ex-União Soviética esteve por detrás da tentativa de assassinato do falecido Papa João Paulo II, em 1981.
Esta conclusão, que corrobora as suspeitas nunca confirmadas de vários investigadores, foi ontem divulgada a jornalistas em Roma pelo senador Paolo Guzzanti, que presidiu à comissão.
Foi em 13 de Maio de 1981 que o turco Mehmet Ali Agca tentou matar João Paulo II, na Praça de S. Pedro, atingindo-o com dois tiros, que felizmente não foram fatais. Agca seria preso minutos depois e cumpriu 19 anos de prisão por este seu crime. Durante as investigações, mudou várias vezes a sua versão do crime, na primeira das quais responsabilizou a liderança soviética.
No relatório que será oficialmente divulgado no final do mês, a comissão parlamentar italiana, que ouviu investigadores criminais na Itália e outros países, diz acreditar que a liderança política soviética tomou a iniciativa de eliminar o Papa João Paulo II pelo seu ostensivo apoio ao movimento pró-democracia ‘Solidariedade’ que florescia na Polónia e ameaçava contagiar as repúblicas sob influência soviética.
“Eles [a liderança soviética] transmitiram esta decisão aos Serviços Secretos militares e ordenaram-lhes que tomassem todas as medidas necessárias para cometerem um crime de gravidade única, sem paralelo nos tempos modernos”, lê-se no relatório, que faz ainda referência ao envolvimento dos Serviços Secretos búlgaros “apenas para desviar as atenções do papel da ex-URSS”.
Os procuradores públicos italianos nunca conseguiram provar a pista búlgara, mas Guzzanti afirma que há uma fotografia que prova que Sergei Antonov, funcionário da filial das linhas aéreas búlgaras em Roma – um dos seis arguidos absolvidos no julgamento sobre a tentativa do assassínio de João Paulo II – estava na Praça de S. Pedro no dia do atentado.
A comissão liderada por Guzzanti foi criada para investigar os segredos da Guerra Fria revelados por Vasili Mitrokhin, um arquivista da KGB que fugiu para o Reino Unido em 1992. Entre esses segredos estava um capítulo sobre a tentativa de assassinato de João Paulo II. Em 2005, a comissão decidiu reabrir as investigações sobre João Paulo II depois da publicação do seu livro ‘Memória e Identidade’, no qual o Papa afirma estar convencido de que a tentativa de assassínio não foi iniciativa de Agca, que estava alguém por detrás dela. O último chefe da KGB, Kriuchkov, negou que a liderança soviética tivesse ordenado o assassínio.
PAPA PERDOOU ASSASSINO
A 27 de Dezembro de 1983, num dos momentos que ficaram para a História do seu Pontificado, o Papa João Paulo II deslocou-se à prisão para um inesperado encontro frente-a-frente com o homem que o tentara matar dois anos e meio antes. Durante 21 minutos, o Sumo Pontífice e Ali Agca conversaram em surdina, longe dos olhares indiscretos. No final, apertaram as mãos. Recorde-se que ainda na cama do hospital, dias após o atentado, o Papa já tinha perdoado o homem que tentara matá-lo.
Ali Agca foi libertado no passado dia 12 de Janeiro, após cumprir mais de 24 anos pela tentativa de João Paulo II e pelo assassinato do jornalista Abdi Ipekci. Por decisão do Supremo Tribunal da Turquia, Agca voltou a ser preso dias depois para cumprir mais dez anos relativamente ao assassínio do jornalista. *Sabrina Hassanali, com agências Fonte: Correio da Manha / www.club-k.net